sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Prática inclusão e construção da autonomia.

    O projeto Assino Embaixo de Izilda Maria de Campos trata-se de um exemplo de prática inclusiva e foi desenvolvido para oportunizar a aprendizagem da assinatura para as pessoas cegas. Este projeto é de grande relevância uma vez que a assinatura representa para as pessoas cegas uma independência, emancipação. A partir da aquisição da assinatura o sujeito estará apto ao novo registro de identidade, substituindo a digital pela assinatura.

    Conforme nos descreve a autora, este é um momento de grande alegria e ansiedade pois a assinatura representa a emancipação. Muitos exemplos são nos dado a partir de depoimentos de pessoas cegas que, a partir da estabilização de sua assinatura, puderam assinar contratos, cartas e abrir conta corrente sem a necessidade de uma procuração ou da dependência de outra pessoa. 

    O projeto se destaca por uma metodologia flexível, aberta e individualizada e se estabelece pela interação dialógica centrada nos conhecimentos prévios, motivações e interesses individuais no qual se valoriza a percepção tátil e corporal e portanto, as atividades são centradas nas necessidades individuais e motivações de cada indivíduo. O trabalho é desenvolvido duas vezes por semana por uma hora respeitando os limites da fadiga de cada sujeito. 

    Os sujeitos são estimulados a praticar a assinatura e a primeira etapa consiste em explorar os movimentos das mãos e corpo a partir de movimentos livres o que auxiliará a identificar o movimento da mão guia e dominante e os primeiros traços são realizados em folha de papel com lápis de cera ou de carpinteiro e somente ao longo do processo utiliza-se o lápis comum e caneta. A etapa seguinte é apresentada uma grade de papelão confeccionada com tampa de papelão com retângulo central vazado de aproximadamente 20 x 3cm dentro do qual será grafado o nome do indivíduo. A compreensão das letras se dá a partir do toque físico e da comparação das partes do corpo ou objetos familiares.

    As etapas seguintes consistem em sequência de cinco grades ou guias de papelão com pautas vazadas cuja dimensões variam até atingir a extensão e largura adequada à grade de assinatura padronizada. Segundo Izilda Maria de Campos o sujeito é considerado apto quando escrever seu nome com segurança e estiver assinatura estável. Este momento ocorre com a obtenção de uma nova carteira de identidade.

    A Importância do projeto vai além do ato de assinar pois confere ao indíviduo uma autonomia, conferindo uma legitimação da cidadania e afirmação da identidade.
                                               

                                                  #Pra cego ver: A imagem traz as réguas 
                                                   confeccionadas a partir de grades de papelão para
                                                   treino de letras cursivas em tamanhos variados.
                                                   do Projeto: Assino Embaixo.



Referências Bibliográficas
SÁ, Elizabet Dias; CAMPOS, Izilda Maria; Silvia, Myriam Beatriz Campolina. Atendimento Educacional Especializado. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dv.pdf

terça-feira, 22 de novembro de 2016




Acessibilidade e Inclusão


A acessibilidade não se restringe apenas ao conceito arquitetônico como comumente se imagina, ou seja, não se refere apenas à construção de rampas, banheiros adaptados, etc. O termo acessibilidade se amplia em diversos campos como a acessibilidade atitudinal, comunicacional, instrumental, dentre outras. O sentido da acessibilidade se concretiza quando estabelece equiparação de oportunidades a todos em todas esferas da vida social.

Importante ressaltar que o conceito não fica restrito à um determinado grupo de pessoas ou características da pessoa mas sim do ambiente. Neste contexto entende-se que a acessibilidade visa um ambiente no qual todos possam obter qualidade de vida. O contexto da acessibilidade é crucial para  a inclusão e o Direito Humano. 

No entanto a acessibilidade para alcançar a inclusão necessita perpassar todos os campos sociais e romper barreiras atitudinais e conceitos antigos no qual a deficiência necessita ser sanada ou resolvida visando o ajuste da pessoa à sociedade. Neste conceito o indivíduo necessita por intermédio do campo médico solucionar seu problema e se integrar na sociedade que não foi construída para todos. Trata-se do Modelo Médico que perdurou por longos anos na sociedade e norteou um paradigma que não responsabiliza a sociedade pela seu papel na inclusão.

No entanto um novo paradigma inclusivo denominado Modelo Social está em processo. Neste paradigma perpassa a responsabilização da sociedade na construção da inclusão. A ela cabe tanto o compromisso quanto a oferta da acessibilidade aos cidadãos onde todos possam exercer sua autonomia de forma plena e independente.  Este novo olhar possibilita a convivência de todos e o acesso aos bens sociais atendendo o Direito Humano. Afinal somente assim estaremos concretizando a Inclusão. Somos todos diferentes e unidos pela rica diversidade que nos permeia, cada qual com sua especificidade e necessidades. 

#PraCegoVer - (a imagem apresenta duas garotas com as mãos dadas e sorrindo, sendo que uma é cadeirante usando vestido verde e cabelos soltos e a outra está em pé com vestido amarelo e cabelos avermelhados soltos, ambas estão rodopiando e dançando)

terça-feira, 27 de setembro de 2016

A PESSOA COM DEFICIÊNCIA EM MINHA VIDA







Quando cursava o ensino básico era raro ver pessoas com deficiência no entanto tenho uma recordação de um aluno no pátio da escola. Não era frequente vê-lo mas quando aparecia ficava no canto, isolado. Este aluno, com diagnóstico de paralisia cerebral, ficava alheio a tudo e na época também não tínhamos contato com pessoas com deficiência mas percebia que as crianças não se aproximavam dele. Era muito triste. Passado um tempo, este aluno sumiu e nunca mais o vi. Depois compreendi a questão e o quanto deve ter sido negligenciado.

No colégio e no ensino superior também não me recordo de pessoas com deficiência pois a escola não "era para eles" pelo menos quando me lembro das escolas que frequentei, todas tinham escadas imensas e andares também, sem qualquer acessibilidade.

Na época de minha docência uma aluna com baixa visão se inscreveu para as aulas de inglês. A escola não me avisou apesar da família ter comunicado. A aluna também não se manifestou mas percebi durante a aula que tinha dificuldades e foi conversando que descobri que a aluna possuía baixa visão. Busquei me informar e estudar e mesmo assim me senti despreparada para as aulas. Não tive qualquer formação na área ou cabedal de conhecimento e ferramentas que me auxiliassem e tampouco a escola e coordenadores possuíam. A ideia foi buscar conhecimento em palestras, livros, sites e discutí-los com os pares e colegas. Descobrimos algumas ferramentas uteis e as utilizamos porém senti que seria um enorme desafio. A aluna persistiu e com o material adaptado obteve seu certificado. Ficamos felizes mas vejo que temos um longo caminho a percorrer e muito a aprender sobre inclusão e educação inclusiva. 

Há um ano ingressei no curso de Libras e esta vontade surgiu após ter alunos surdos em sala de aula e vivenciar dificuldades no processo aprendizagem destes alunos bem como a "angústia" de estabelecer canal efetivo de aprendizado e comunicação. Sei que tenho um longo caminho mas o importante foi  ter dado o primeiro passo e saber que não estamos sós pois o conhecimento quando efetivado em  troca de experiências pode ser muito enriquecedor.